Nossa intenção é a produção de imagens que traduzam o que nossos olhos apreendem como sensações. Sob o foco da lente está o corpo, o corpo enquanto suporte simbólico e material, origem das potencialidades e das crises mais humanas. O corpo em seu limite carnal, desvestido de quaisquer ornamentos culturais, desnudo e absorto em explosões sensoriais plenamente físicas. O corpo oferecido do útero, maturado e construído através de experiências de cunho friccional, substancial e natural.
O corpo enquanto tema tabu, é o fundo para um olhar interessado no limite da transfiguração entre o absurdo e o benquisto. Transfiguração aqui, é entendido como processo cuja conclusão se encontra no ponto limítrofe entre o reconhecido e o desconhecido, - a objetificação do suporte carnal em seu conteúdo puro e formal. Deslocando o corpo de seu campo de batalha primevo, tanto físico quanto simbólico, almejamos alcançar as saliências e ondulações sensíveis de um manancial de formas enternecedoras infinito. Sim, é sobre os irreconhecíveis relevos de músculos e dobras de pele que nos apiedamos quando de frente ao monumento do corpo humano. Pretendemos exaurir, por meio de registros fotográficos, o corpo de seu arquétipo de corpo. O corpo que requisitamos está além do modelo platônico, ele está ali, na suas especificidades comoventes, pois, creditamos à cicatriz o distintivo identitário maior, para além do indivíduo, está a trajetória de um povo.
Ainda sim, nosso trabalho não se encaixa no ramo narrativo, não desejamos desenhar um perfil corporal pessoal e uno. Adentramos antes ao campo das generalidades, pois em nosso projeto visual, há muito de música. Se Alair Gomes chamava às suas séries de sinfonia, tendemos a buscar um caminho semelhante; a atenção generosa sobre esses encadeamentos de formas efêmeras e posicionais deve soar como melodia aos nossos olhos. É ai que encontramos o potencial poético do corpo com o qual nos deitamos. A intimidade logo, surge com um papel primordial, ela, a diplomata e a intermediadora entre o corpo alheio e a câmera.
Para além de seu resultado gráfico, tal pesquisa reflete em seu âmago uma questão antropológica, o corpo enquanto outro, ou para uma melhor exatitude, uma antropologia do corpo. O tom autobiográfico da obra de Louise Bourgeois nos é uma referência quando pensamos na construção substancial e psicológica de nosso próprio corpo, este refém de um pesamento moral e ético pré estabelecido tende a estar enlaçado por justificativas ideológicas que transcendem a própria história de fundação do Ocidente. O que desejamos, no limite, é colocar nossos corpos em conflito com outros corpos, transformar este terreno em uma festa. Para tanto, para comprovar as delícias dos jardins de Bosch necessitamos do registro fotográfico, o vestígio material de nossas composições compartilhadas.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário