quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Mi túnel

Minhas palavras encontram sua mirada triste e distante, uma expressão surda impossível de ser resgatada. Desespero-me e me perco em seu silencio porque era sua a mão que segurava para me guiar na escuridão. "En todo caso habia un solo tunel, oscuro y solitario: el mio, el tunel en que habia transcorrido mi infancia, mi juventud, toda mi vida." Por que e tão difícil para vc me dizer o que passa contigo quando já sabe tudo o que sinto? Pediste a mim que te esperasse para se amargurar com a sua solidão? Por mais uma vez intento, passos ligeiros e vacilantes me levam ao seu encontro, isolada aos fundos da casa em funções domesticas, beijo seu ombro com terna e angustiante ansiedade. Meu caminho de regresso carrega a mesma áurea dos derrotados.
Tantos insucessos na reconquista pelo seu amor me fazem anuviar as vistas e contaminar meus racionamentos. Por que afasta seu braço de meu corpo mendicante, movimento seco que se traduz em olhares que evitam o encontro com o meus olhos. "¿Me querés, solo le pregunto eso, me querés?" Ainda espero saber o significado de seu desejo de entregar a Deus o destino de seu futuro já que seus atos de hoje me parecem tão imbuídos de um juízo calculista e cínico. Se afasta de mim quando tanto tenho para doar-te. Penso então, que depois de tanto tempo caminhando juntos nossos projetos seguem paralelos, se apartando a cada dia que passa, para não mais nos reconhecermos em nossos gestos e dúvidas depois daquela forquilha inoportuna.
Encontro-me novamente em meu quarto refletindo na escuridão o que farei dessa cicatriz ingrata. Pois é a esse espaço torpe e fechado que pertenço, onde não preciso mais abrir as janelas para saber quem eu sou. Meus pensamentos mortificantes são todos seus, assim como as palavras que nunca quis compartir, por fim meu ato final será por ti conhecido cujo fim irá celar para sempre nossos destinos. Seu corpo que descançava na relva fugindo do mormaço que marcaram nossos últimos dias nesse verão será encontrado sem vida, delicado e inocente como sempre preferiste se apresentar, perfurado a facadas abrigando o livro que abandonei para enterrar essa história maldita, El Túnel de Ernesto Sabato.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Eterna fuga

As vezes penso que o meu nascimento foi como uma grande caminhada porque eu já nasci andando. Pelo menos gosto de relacionar a minha origem com o que eu apenas sei fazer. Melhor, mais do que caminhar eu sei correr, correr e fugir. É o que eu sempre estou fazendo, não? Fujo daqueles que aparentam me amar e fujo daqueles que demonstram me odiar. Minha narrativa, então seria como de um grande suspense tedioso porque palavras como perseguição, paranóia, medo e receio abundariam sem nunca se conformarem como uma conclusão. Isso me traz a recordação do diálogo que hoje tentei semear entre os meus alunos. A idéia da eterna busca.
Será que fugir é a minha maneira de dirigirme ao que eu busco? E se isso é verdade, o que no fundo eu busco? Provavelmente então, tal tesouro se oculta ao alcance dos homens, onde eles estão é onde eu não quero estar. Fugi hoje de novo e enquanto caminhava - como quase impelido pelo movimento involuntário das minhas pernas - desejava volver o corpo e degladiarme com aquilo que me pertubava. E estou até agora ansiando pelo regresso; retorno este que a cada hora, dia e semana que passa vai restando como mais impossível e mais intangível, quiçá até inimaginável. Por que me foi e é tão difícil sustentar meu corpo acocorado naquela condição desleixada e levemente indiferente?
Será que sua porta se manterá aberta quando da minha volta? Seria merecedor de tamanha indulgência e generosidade? E tudo isso faço sem mirar minhas costa com medo de que minha retina encontre com outra que reclame a minha presença. Saiba então, que não adianta gritar pois sou surdo àquilo que meus olhos não querem ver.

domingo, 5 de dezembro de 2010

A 29 Bienal inteira é um mar

A Bienal inteira é o mar, uma grande massa de água em que milhares de ilhas compõem um estranho arquipélago, pelo menos era o que as crianças gritavam em uma das minhas visitas e nós, educadores, funcionários e visitantes nos encaixamos como nessa história? Como no verso de Jorge Lima ou na fotografia de Maiolino a metáfora do barco me parece atraente, um barco frágil de papel ou madeira que navega vacilante e sem definição de rumo. Seja em um copo, na palma das mãos ou aventurando-se pelo declive da rampa de Niemeyer esse espaço oferece diversas e incertas possibilidades. Como orientação temos as gigantescas bussolas artesanais, legendas camufladas nas paredes brancas e os membros da tribo dos camisas verdes da qual eu faço parte. Mesmo assim, sinto-me livre a deambular por entre veredas sinuosas e pelos salões escuros em busca de minhas experiências íntimas e convido os outros para o mesmo fim. Significá-las creio seja o mais difícil, mas também o mais desafiador e intento esse percurso todos os dias porque sei que dar significados a elas é o meio pelo qual eu tenho para revivê-las, como disse T.S. Eliot.
Já me perguntaram se é suportável lidar sempre com as mesmas obras todos os dias, contesto que meu trabalho não se dirige tanto as obras, mas antes as pessoas que as visitam, minha instigação então, ou o vento que não deixa as velas do meu barco mortas está nessas mesmas perguntas que me inquirem. Está no envolver dessas delirantes rotas da descoberta que se entrelaçam entre as minhas e as do público. Quem diria que algum dia eu estaria aberto ao diálogo com a Arte Contemporânea, quem, antiquado, sempre se mostrou adepto da arte contemplativa agora podia passar horas de intenso exercício reflexivo com o som da caixinha de música de Anri Sala. Muito do que eu disse para meus alunos de passagem hoje eu assimilo como parte de mim, pois, se o museu é mundo como ditava Hélio Oiticica acho que estive buscando inspiração nos salões brancos errados. Será que depois de tanto tempo emergido nas águas desse oceano hoje a arte desponta como um dos meus horizonte na conquista da verve (emprestando o termo de uma das grandes professoras do interior que me acompanhou)? Penso a acima de tudo como instrumento para transformação não apenas para mim, mas, da mesma forma, para os estudantes que me escutaram. Afinal todos nós estávamos e ainda estamos em um processo de formação nisso que convencionamos chamar aqui de Arte e Educação.
Nascemos e morremos muitas vezes durante a vida, não sou o mesmo de ontem e serei outro depois de amanhã. É difícil empregar essa equação nesse trajeto de sete meses onde tantas memórias se debatem com o benfeitor do esquecimento, tantas vezes que tropecei para no final revelar tantas outras coisas sobre minha pessoa. A arte de viver – lançando mão da expressão de Godard – também foi a arte de aprender/ensinar, de me perder na pergunta de alguns e empreender uma nova leitura na resposta de outros. Essa relação que nós educandos tivemos tem muito da sensualidade das obras de Arthur Barrio e Amélia Toledo onde o toque, o olfato e o instinto guiavam-nos em novas direções. Já nesses dias de epílogo sinto certa nostalgia dos diálogos que findam, da rotina cambiante e do espaço em vias de extinção que tanto me marcaram esses meses; como primeira experiência na educação vislumbrei o que acho que seja a minha vocação, desenvolvi o que talvez seja meu método e ultrapassei algumas barreiras que eu tinha como limitadora. Creio em suma e posso dizer que desapunhalei a minha língua. Em uma das minhas visitas favoritas terminei por falar da inexistência de uma verdade única e como aquele salão expositivo representava uma multidão de outras verdades, que se não necessárias serem levadas como máxima, deveriam pelos menos serem consideradas, pois a resposta crítica não está nelas e sim naquele que observa ou em como Bob Dylan canta: The answer, my friend, is blowin' in the wind The answer is blowin' in the wind.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Minha caixa de Pandora

"Esses papéis do passado qe guardo numa caixa são meu zoológico particular: ali estão trancadas feras de tamanho reduzido: lagartos, serpentes de pele fria. Basta abrira tampa para ver como se movem, minúsculos, tal como as minúsculas placas de gelo que navegam em meu sangue. No redil da história apascento os animais da manada: alimento-os com
a carne de meus próprios pensamentos.

Esta noite, ao mergulhar a mão direita na caixa onde guardo meus papéis, os animais subiram até meu antebraço, moviam as patinhas, as antenas, tentando sair para o ar livre. Esses répteis que se arrastam por minha pele cada vez que resolvo mergulhar a mão no passado provocam em mim uma infinita sensação de repugnância, mas sei que o roçar escamoso de seus ventres, o contato afiado de suas patas, é o preço que tenho de pagar toda vez que quero comprovar quem fui."

De tanto revolver aquelas pastas de alfarrábios deixo as criaturas atiçadas e perigosas. Aqueles papéis velhos não são tão meus hoje como o são deles agora a casa, pertubar aquele abrigo de memórias e poeira concorre um pouco contra a minha própria segurança. Não tenho medo apenas de picadas peçonhentas, mas também de que criaturas mais possam ter sido geradas naquele ambiente inóspito. É um pouco também daquele assombro que sinto ao contemplar as fantasias que minha mente ociosa põe-se a produzir em estado de vigília. Quimeras que não se relacionam apenas com alternativas encantadas de mundo, mas também com perspectivas bem reais ao mesmo tempo que pouco tangíveis para minha vida.
É de tal asco a sensação que se origina daquele movimento sinuoso e vertiginoso de mil pegadas e belicões em meu corpo, sobre a intimidade de minha epiderme que meus pelos se eriçam e a ânsia de vomito é de pouco controle. É a certeza ou a incerteza que me fazem arriscar a minha paz e insegurança ao reviver aquelas películas sem cores e muda que foram meus dias passados? Busco uma mentira que me ajude a negar a verdade sobre mim mesmo ou o inverso para dialéticamente reconstruir uma versão dos fatos e das minhas feições. Porém, antes que eu chegue a metade do segundo calhamaço de documentos já me vejo envolvido por espécies de bestas semelhantes só às das antigas lendas aborígenes. Sinto-me como embuído do mesmo atrevimento de Pandora ao abrir aquela caixa de males. Como para a humanidade foi uma perdição a mim mesmo não existiu um epílogo diferente.
A sede que enseja a ambição dos meus gestos convulsivos é parte daquela busca pelo autoconhecimento que guiou tantos homens. Só que em meu exemplo, não deslumbro a chave para meu caso em uma jornada de revelação espiritual, mas sim na faxina de um soltão velho. Versão se não tão épica ou romântica, é ao menos interessante nesses domingos novos cuja as horas se arrastam com a mesma morosidade em que sacudo o pó desses móveis sem donos. Do desprezo pela quantidade de vermes e insetos que espreitam pela frestas das paredes, penso que tal impressão não muda de caráter ao pertubar a tranquilidade de seus irmãos que guardaram minhas relíquias pessoais.

sábado, 27 de novembro de 2010

Oi, ainda lembra de mim?

Por que me é tão dificultoso lembrar de vc hoje? Não é a dor que tolhe a minha memória, é antes a perda da base em que se sustentava todas essas recordações. Não te reconheço mais em suas falas e ações, as vezes penso que até mesmo a cor de seus olhos possa ter se alterado. Aqueles quadros de retina castanha escura aos quais sempre me foi possível mirar sem desviar o olhar. As pessoas mudam, eu sei, imagino então, que a efemeridade das relações atuais - ou pelo menos das minhas - esteja relacionada a essa metamorfose constante e perversa da personalidade alheia.
Quem é vc que não quer mais meus diálogos? O que fizeste com todas as cartas que, disse, me escreveria? Não é somente mais a distância que nos separa, são também nossas vidas que não nos dizem mais as mesmas coisas. Uma relação de poucos dias, intensos é verdade, são hoje material para estes escritos que eu bem sei, vc nunca os lerá. Afinal se vc já se olvidou do que fomos, te importará un carajo o que podemos ser? Ainda me são caros aqueles passeios pela plaza independecia e aqueles ternos instantes que antecediam, o que vc ingenuinamente pensava ser, o despertar do meu sono pela sua voz. Todavia, conto os dias que produzem aquela ansiedade do nosso reecontro.
Quero um último abraço, talvez um último beijo.. não, quero muito mais e vc sabe. Depois de tanto que um inverno me ofereceu, não tenho tanta certeza se o verão me será tão generoso. Quero nosso reencontro não para dizer adeus, mas para saber se ainda te conheço.

sábado, 20 de novembro de 2010

Lembrança e Esquecimento




Sobre uma superfície estofada, acomodados sob almofadas que nos envolvem em um suave odor de ervas, olhamos para o alto e o que enxergamos é uma tenda cuja cores nos elevam até a eteridade do céu. Vc sabia que um arco-ires tem muito mais do que sete tonalidades? Ele tem tantas possibilidades assim como infinitas são as possibilidades das idéias; como entidades multiformes e ao mesmo tempo metamorfosiantes. Convidativo ao corpo físico dos visitantes, esse espaço dá antes uma oportunidade à mente. O relaxamento dos músculos torna-se uma ocasião privilegiada ou antes uma porta de passagem para o campo da memória, uma ensejo de tal conveniência para a livre associação de idéias e reminicências.
Mas qual seria a relação entre lembrança e esquecimento? É possível pensar alguma coisa sem antes esquecer de todas as outras ou ainda não é imprecindível para se esquecer de um pensamento se recordar de outros? Lembrar e esquecer tornam-se logo movimentos constitutivos e indispensaveis do processo de pensar. A construção das idéias é, por excelência, uma via de duas mãos aonde existe um livre - as vezes caótico - trânsito desses excessos.
Se vc já recostou a sua cabeça e está absolvido de todas as tensões do inferno cotidiano, agora durma e sonhe, não somente sonhe, mas antes experimente em sua natureza primal o florecimento e maturação do campo das idéias. Falo obviamente, do mundo dos sonhos. Pois, é nessa esfera do onírico aonde podemos observar ou infelizmente apenas imaginar a verve deste ensaio em seu estado puro. Inconcientemente e involuntariamente nossa cabeça trabalha compulsivamente no engendramento de uma realidade que muito tem do que somos, mas também do que não sabemos sobre nós mesmos. Afinal, como diria Freud, o sonho é a realizaçõ recalcada de um desejo reprimido. Assim, o que vivenciamos quando não estamos em nossa condição de vigília é o cosmos da transcendênica, uma região aonde convivem todos os registros de nossas experiência em harmonia/conflito com todos os nossos desejos e medos. Um carnaval que depois se converte em silêncio quando despertamos. Lembrança e Esquecimento creio, tem um pouco dessa verdade também.
De vez em quando essa troca nos toca rotinamente e não chegamos a dar atenção; percebemos sim unicamente em um estágio posterior. Como nos fala Jorge Luiz Borges quando escreve: "só possuímos aquilo que perdemos; aquilo que perdemos, esquecemos e depois lembramos", essa versão tem um pouco do que nos conta um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Alvaro Campos. Em um poema aonde ele fala sobre uma pobre menina glutona: "Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!". Sabe, tudo isso é sobre como a vivência do tempo presente se perde em sensações para acabar de olvidar-se da significação. Não constatamos a felicidade ou quiçá tristeza daquele instante efêmero para só depois descobrirmos o que estava à nossa frente e é nesse flagrante que podemos nos reconhecer como possuidores da idéia/experiência.
Nesses ínfimos minutos aonde vcs estiverem? Em que lugar as cores, os aromas, a textura, a aragem de todos esses sentidos levou vcs? Voltemos então, à horizontalidade porque a digestão de toda essa verborragia pode custar muitas das suas próximas noites. Espero ter-lhes sido util.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"- Não tentar mudar a personalidade de alguém em 1 hora"

Não é possível mudar a personalidade de uma pessoa em uma hora? Quem levantou tal proposta, hasteou tal bandeira, defendeu tal idéia? Fomos condenados então, a existir dentro dessa pessoalidade como uma camisa de força desde o nascimento? Me aconcelharam desde a primeira idade que eu deveria ser sempre o mesmo, mas nunca me contaram o que aconteceria se eu fosse outra pessoa. Mergulhados em nós mesmos nos omitimos ao conhecimento da superfície e que espetáculos maravilhos não nos permitimos a vivenciar? Quem nos deu esses olhos, nos concedeu o olfato, tato, audição não queria que os exaurissemos em movimentos mecânicos e repetitivos, libertos desse tal utilitarismo convencional. Eles são os instrumentos previlegiados para aquilo que chamamos experiencia.
Moderados interna e externamente negamos a pontencialidade do mundo a nossa volta. Os homens movidos por um progresso irrefreado abriram mão da liberdade em favor da civilização, tolheram aquilo que os separavam dos animais para existirem como eles - instituição cunhada aqui como Coletivo Humano. A individualidade como subproduto dessa ordem é tida como um distintivo dentro de uma massa homogênea. Engano perpetuado desde as mais longíquas gerações, afinal esse traço é quase um caractere genético. Como donos de uma personalidade una tencionamos a nos fechar àquilo que nos é incompatível, pois como código pessoal ele não somente significa auto-arbítrio, mas também auto-censura. Logo, resistir às influências externas é também negar o processo pelo qual nós fomos formados.
Como é possível mudar então, uma coisa que está em constante mudança? Transformar algo que em essência esta submetido a fatores das mais diversas esferas, a experiências dos mais complexos níveis, a uma estrutura das mais frágeis? Liberdade não é apenas fazer aquilo que ser quer, é sim, do mesmo modo, dar liberdade àquilo que nos quer tocar.

domingo, 14 de novembro de 2010

Barco Bêbado

Por que tanta amargura? Eivo meus dias de pensamentos ruins e comportamentos deletérios, me pergunto quão forte podem ser os laços das relações que sustentam minha presença dentro da sociedade. Como animal político tento minimamente cumprir as minhas funções, mas me desnorteio quando o convívio social exige calor humano ou mesmo a vulgaridade de diálogos tolos. O que me faz fugir das rodas de amigos e comemorações festivas? É a curiosidade dos olhares que me cercam e a transparente leveza dos seres que contrasta com a minha agonia. Me enlevo de uma tal sensação digostosa que não me resta outra saída se não a rua e o isolamento.
Nesse quadro cujos detalhes são borrões e toda paisagem não passa de uma nuvem de vapores, a imagem de um barco sem remos e sem leme me parece atraente. Sem direção ele está submetido aos gênios das ondas e do vento e por mais tenaz que seja a estirpe a qual pertence nada pode fazer para recriar a sua condição. E tensão dessa fortuna se intensifica com a inexistencia de horizonte - o anuviamento da vistas - que lhe oculta para onde vai ou de onde saiu. Tal movimento cadente provoca uma impressão de embriaguez, como barco bêbado ele permanecerá a deriva durante toda a viagem até uma borrasca decidir um encontro com rochas ou corais. Um fim cuja falsa-originalidade somente pode revelar as profundezas do oceano.
Não foi um romance, foi um relato; não houve intrigas ou aventuras, simplesmente decepções de um enredo mal escrito e não haverá um título, apenas uma breve citação. Durante toda narrativa, trajeto, viajem ou coisa que o valha sua uníca companhia foi um reflexo animado pelo tremor da superfície do mar - um rosto de quem a familiaridade nuna lhe revelou a real identidade.


E mergulhei então no Poema do Mar,
todo de astros mesclado, e leitoso, a beber
os azuis verdes, onde, a flutuar e a sonhar
um absorto afogado às vezes vai descer;

domingo, 7 de novembro de 2010

Coletivo

É tarde e meu ânimo segue sendo chacoalhado pelas veredas em que o transporte público me conduz. É tarde e a garoa fina que cai do lado de fora avisa ao meu corpo cansado que já era hora de estar em casa. É tarde e mesmo em plena conciência desse fato eu continuo perscrutando os ponteiros de meu relógio. Por que eu insisto sempre no mesmo percurso massante quando eu sei bem que uma caminhada me faria bem melhor? Envolvido em diálogos alheios e o mormaço deagradável do aperto - que nada podem contra a gélida sensação de abandono que a fórmula homogeinizante da multidão me imprime - eu escuto uma melodia suave. Quanto de razão e emoção estavam mesclados naquele ato que me colocou dentro desse coletivo? O ministério público da saúde deveria colocar como situação de risco à sanidade mental condições assim... as vezes parece que o próximo esbarro desencadeará um surto irrefreável no meu corpo e mente, ou quem sabe na figura do próprio condutor [que mal observei o rosto] se for obrigado a abrir a porta pela quarta vez na mesma parada.
O sinal fecha pelar terceira vez e eu pela sexta escuto aquela canção que me recomenda regalarte com uma rosa. Não penso na validade da proposta, tento antes me segurar na recordação gostosa que foi o seu sorriso ao se deparar com o meu buquê. Da mesma forma que me agarro a essa memória delirante tento não me desprender das barras que oferecem a segurança da minha viagem. Naquele trajeto parece que o amparo de ambas concorrem para a sustentação da minha segurança. Onde fica a fronteria entre a sanidade e a loucura? Será a próxima esquina a divisa entre esses dois estados? Uma rotina de dias tão parecidos mas com cores tão diferentes, as vezes penso que minha teoria de simulacro cenográfico ganha valia nesses ambientes públicos de tão incomoda intimidade. Então, já na exasperação da minha claustrofobia eu tento buscar as verdades pessoais daquelas feições tão díspares que hoje compõem a minha companhia ou quem sabe encontrar abrigo ignorando a hostilidade de todas aquelas expressões. Sem sucesso, afinal é dificil ser escutado em uma multidão de headphones.
Agora falta pouco para o fim do castigo que todos nós assumimos em doses ameopaticas para não surtar em objeção. Não sei mais se quero te encontrar ou estar um pouco só finalmente. Meu juízo de escolha permanece atordoado pela lembrança daquela personagem anônima que nunca cruzou suas miradas às minhas, dona de um semblante que, não duvido, comparta muitos dos meus pensamentos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quem me dera desaparecer antes de questionar.

Que diferença existe entre o que eu quiz dizer e o que vc entedeu, não? Apesar de lançarmos mão das mesmas palavras, compartilharmos o mesmo arsenal gesticular e bebermos do mesmo caudal cultural, ainda assim não nos entendemos, por que? Um abismo nos separa e ele foi cavado por essas ambivalências que produzimos em nossos diálogos; conversas que passam pelas banalidades do cotidiano até as grandes verdades que governam o mundo. Existem também aqueles temas sobre os quais no calamos e que a despeito da intimidade nos são tabus. Então, estamos destinados a toda vida a sermos mal entendidos?
Na verdade não, porque nós sabemos que nossas interpretações erradas nunca serão esclarecidas, simplesmente porque é mais fácil dizer "deixa pra lá". O constrangimento é evitado e não destruimos as ilusões alheias, afinal não queremos consentir com esses esquema viciado que o mundo nos colocou, certo? Eu pelo menos sempre obedeci a minha inclinação pessoal de andar contra a corrente, sabe? Lembro bem daquele dia em que vc me ensinou a verdade desse ato e corri atrás por igual caminho, não importando as concequências. Quando estaremos maduros o suficiente para entender que a dor é das experiências mais propícias pela qual nosso semelhante pode nos educar? Encerro esse parágrafo com mais essa contradição e que é a minha vida se não uma coleção delas?
Eu queria mesmo seguir minhas próprias regras e não submeter meu comportamento as convenções socias, áquele velhos protocolos que me fizeram abdicar da minha personalidade e me obrigam a mentir todos os dias para ser aceito. Mentir inclusive para vc - aquela que eu sei - nunca me ofereceu mais do que inverdades.

sábado, 30 de outubro de 2010

The Elephant Man

Aberração gritaram ao ver meu rosto, em meu uivo de infortúnio na verdade eu perguntava: quantos de vcs não o são em seus interiores, quantos não escondem em trajes de gala as cicatrizes morais e éticas da perversidade? Era refém dos homens e da maldade, apesar de nunca ter demonstrado mais do que insegurança e ingenuidade. Dedos apontados, expressões de angustia e náuseas, uma platéia aterrada, entretando, restava ainda saber quem se sentia mais ameaçado? É somente do belo que se origina a bondade? Dessa inverdade nasceu a condenação pelo pecado que não cometi e que os homens assumiram a responsabilidade por julgar.
Procure além das erupções, sob as deformidades aquilo que o medo e o desconhecimento tentam escurecer, pois por baixo dos anos de miséria e humilhação existe uma criança acuada e amuada sofrendo de solidão. É a fera ou a pena que lhe estimula a repulsa? Será mesmo que ainda após a obra de Mary Shelley vcs duvidam que um monstro pode amar? Vivo nas sombras porque a luz a muito tempo que deixou meus irmãos cegos, num espaço aonde os holofotes não representavam reconhecimento, mas apenas reprovação. Será que são nas fabúlas fantásticas onde onde criaturas disformes ganham abrigo que a humanidade busca a sua redenção?
Escrevo em primeira pessoa não porque assumo tal martírio, mas porque guardo comigo a sensibilidade que um pré-jugamento nunca revelará. Penso então, que muito do que John Merick me ensinou o monstre charmant já conhecia. O que conduz um espírito sensível jamais tocará uma multidão, porque a massa jamais terá sentimentos se quer razão, ela em si é o monstro que julga sem perdão.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

"Três transformações do espírito vos mencionei: como o espírito se transformava em camelo, e o camelo em leão, e o leão em criança."

O mundo está por demais viciado nesses imutáveis arquétipos, nesses modelos de guia e comportamento que ditam a face da humanidade. Uma tal dependência que na verdade revela a essência do pertencer ao 'grande esquema das coisas', do que significa ser homem entre os homem. Por não desvencilharmos dessa corrente que nos faz querer iludir com soluções que bem sabemos não soluções, mas verdades bem construídas. Então, como devemos esperar que do errado brote o certo ou que do problema floreça a resposta? Constatação que ignoramos porque no fundo sabemos que é mais doce viver de quimeras.
Eu bem sei que em uma micro escala do mesmo modo, minha existência é regida por uma ditadura de personagens fixos que representam o leque de alternativas que meu espírito tem como possibilidade. São os únicos instrumentos do meu estojo e como bom aprendiz os uso com parcimônia, sem entretanto esconder minha inabilidade. De tanto me afiançar a cada um deles como verdade, eu lhes dei vida! Vida própria e nomes distintos que me tornaram refém dessa liberdade compartilhada - veja só o circo de curiosidades. Não me confundam então com um deles, porque sou todos e nenhum, não penses que me conheces somente porque tratou com algum.
Penso então, que se hoje criei mais afeição por um, não quer dizer que ele detenha a minha verdade. Pois se hoje me confundo na hora de me apresentar é porque ainda me perco nesse labirinto de verossimilhanças. Assim, como os outros da minha raça acreditaram que seria no espírito pervertido, nascido na comunhão do sedentarismo, que eles descobririam a liberdade.

domingo, 24 de outubro de 2010

"La paz no esta en los laberintos formales no esta en lo ritmo slencioso de las águas... Esta en el centro mismo de cada ser."

Tenho uma dívida de fé com a vida, esta existência que há me dado tanto por muito tempo esteve afastada de meu corpo, por muitos anos não dei crédito a essa crença. Por isso, já reformado, deposito em cada efêmera experiência aquela fé que minha razão tanto renegou. Não estava apenas corrompido pelo ceticismo, ateismo, mas também pelo pessimismo que me fazia ignorar a verdade contida nos pequenos detalhes. Falo das histórias que o sinuoso rumo das águas de um riacho desenha ou do silvo do vento sob as folhas secas que aos poucos mudam a cor e textura do passeio. Linguagens que somente os retiros de solidão me ajudaram a decifrar, me revelaram todas as crônicas que hoje compõe o hino de minha religião.
Foi somente no silêncio das cordilheiras que pude finalmente escutar o meu interior, esse centro particular de cada ser no qual se oculta a paz tão almejada. Em posse somente de toscas vestes e decidido ao abandono total dos desejos da mente e do corpo me deixei por alguns minutos nesse estado ascético. Estágio de elevação que por sua própria finitude me aproximou do infinito. Condenado que estou a essa vida mundana, me decidi a utilizar cada dia de minha vida a recuperar aquela aurea etérea que os ventos frios do sul me fizeram conhecer. Sei que esse alento pode ser descoberto levantadosse cada pedra, mordendosse cada fruta ou mesmo contemplandosse cada criatura em uma concepção panteísta e fantástica da realidade, entretanto é tão difícil concentração nesses dias de insegurança.
O que sei é que de novo preciso me entregar a essa peregrinção errante e indidual, acompanhado unicamente das aspirações de meu entusiasmo juvenil e dos pedregulhos que coleciono pela estrada. Desejo que encerra as últimas linhas desse texto, que não foi um depoimento, se não uma prece por esse milagre cotidiano e maravilhoso que é a vida.

domingo, 17 de outubro de 2010

O que é mais clichê?

O que é mais romantico, amar ou nunca ser amado? Que dor a gente ignora menos, a dor do amor mal correspondido ou a dor do amor interrompido? E esse peso sobre a minha coluna tem mais de saudade ou de mágoa? Parece clichê pensar nessas questões após resisitir a uma maratona de melodramas, mas a tendência é inevitável. É como dispensar sorvete em dia de verão ou como adiar a vontade de dizer "te amo" por mera convenção social; apesar das comparações esdruxulas, devo acreditar que minhas palavras encontram resonâcia no espírito de algum(a) leitor(a) anônimo(a). Não é o incomodo da incerteza que me molesta nesses dias, na verdade o contário, é a aparente calmaria que parece prenunciar o colapso que me tira o sono, sabe? Como se meu mundo perfeito não tivesse data de validade e eu estivesse revoltado com isso. Pode essa coisa de maluco?
Outro dia percebi quanto os malditos riem dos pseudo-intelectuais que preferem chorar. E se alguns dizem que a tarja de pessismo e tristeza é elevada a sinônimo de grandeza, então por que a vida de bufão me parece mais atraente? Daqui de meu banco de desinteresse eu passo o maior parte do tempo observando, mirando os caracteres físico/estéticos que vão me fazer esboçar os perfis dos indíviduos que chamam a minha atenção, estima essa nutrida pelo desprezo que alguns me despertam e pelo libido embebido em outros. São tantos anos nessa função que acho que já não sei fazer mais nada. Serei então, essa eterna testemunha anônima de histórias que não fazem a minha menção? Engraçado mesmo é essa mania que me acompanha de se apaixonar todos os dias por pessoas diferentes quando antes eu poderia me concentrar apenas em uma.
Me disseram que eu sou um daqueles que se esforçam demais para acreditar em coisas que eu bem sei, não são verdade. Talvez isso não esteja tão errado quando trato de pensar em quantas vezes me propus e intentei acreditar em vc, vc, vc, e vc. Pessoas diferentes que tinham todas algo em comum - o fato de nenhuma delas jamais terem saido da minha cabeça. E cada dia que passa sobra menos espaço para eu mesmo, para a minha pessoa, será que nenhuma de vcs me fariam esse favor?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Los ojos de Gutete Emerita


Penetramos surdamente o reino da dor, do limiar da porta seguimos a frase iluminada em linha reta que nos guiava até a grande sala, até a imensa mesa que nos servia o singular cardápio de um milhão de vistas; olhares que exprimiam a profundidade de um sentimento lancinante. A intimidade e o cuidado nos fizeram perceber que se tratava unicamente de um mesmo olhar, um par de retinas que se repetia como os ecos de uma experiência que encontrou lugar em outro continente, isolado do nosso conhecimento até aquele momento. Um clima de luto, confidenciou uma do grupo, encobrio a todos como a escuridão das paredes que nos deixava na penumbra.
Será então, que um fato histórico localizado em tempo e espaço diferentes está completamente alijado da nossa realidade? Então, não temos culpa do genocídio armênio do início do século XX ou do massacre indígena promovido pelas Campanhas do Deserto no final do século XIX na Argentina? Em verdade, penso mesmo que carregamos até hoje nas nossas costas o peso da morte de seis milhões de judeus no pré-segunda guerra mundial. A experiência de clima denso e indigesto seria o que os hispanohablantes chamariam de pesado. Teríamos conquistado o intento de se aproximar do sofrimento daquela mulher? Creio que não.
Nossa presença naquele ambiente só teria sido notada pelos sussurros que emolduravam nosso ensaio. Um respeito e resignação que contrastaria com o atordoamento dos telespectadores de um telejornal com a mesma notícia. Ambos os lados de um parecido silêncio guardado a muito, uma mudez parecida com a burrice que nos encarcera atrás das grades da normalidade.

sábado, 2 de outubro de 2010

Should I Stay or Should I Go?

O sol que arde sobre as costas, o asfalto que come as botas e a longa duração do tempo podem explicar a felicidade de um viajero. Não importa se os anos exulmarão uma outra verdade sobre esses dias de nomadismo, o que eu tenho agora vai me sustentar pelo resto da minha juventude. E sabe por que o que importa é o agora? Porque eu não ligo para o depois. Os pensamentos que tirei daqui não são moeda de troca para dias melhores, sua validade não depende de sua utilidade e as experiencias são demasiadamente mais sucetíveis se eu não penso nisso. Foi a caduquice que me fez dar corda para o pessimismo, me deu racionalidade quando antes o que fazia era obedecer o corpo. Era o meu livro de denúncias e poemas de Galeano debaixo do braço e a minha vontade que me guiavam.
Em cada viajem um amor diferente, uma paixão que ardia enquanto nossos corpos transpiravam. A estrada me deu muito disso e tantas vezes que em alguns momentos me desviava do que eu realmente procurava. Como diria Rilke naquelas cartas em que somente um jovem poderia ser o destinatário, "uma só coisa era necessária; a solidão, a grande solidão íntima." Eu pensava nisso e apesar de estar tão longe do eu que buscava, sabia mesmo assim quem eu era ou pelo menos imaginava saber. Porque percebo agora o quanto mudei desde a última vez, o quanto do minha antiga bagagem se perdeu pelo caminho para dar lugar a um pouco mais de material usado. Engraçado, quantas mais vezes eu escutava "Should I Stay or Should I Go?" tocando, mais me decidia por ficar para reavivar na mente as recordações esmaecidas de transgressões sem sentido, imagens de uma sutileza análoga a uma caixinha de música.
Quem foi que disse que sabedoria somente se alcança através do excesso? Se a equação dá uma razão exata eu ainda não provei; mas o quanto não aprendi de nossos usuais crimes? No final o que resta é aquela derradeira imagem de despedida da janela do micro que tanto me faz querer voltar novamente.

domingo, 26 de setembro de 2010

O bailado do deus morto

Não libertem os Urubus! Baila o deus morto para trazer alegria e estímulo às mentes comportadas! Asfixiadas pelo gás carbônico e pelo conformismo, agarradas ao seu lugar confortável para assistir a um espetáculo recatado. Levantem e dancem como ninfas entre os animais! Se alimente de grama e inspiração! Saudem ao deus da antropofagia, porque o que reina agora é a libertinagem. Se entreguem ao mito verde-amarelo de nosso ritmo, veja como é contagiante a dança do boibumbá! Aaaaaaaaah, muleque!
Contra o capital, contra a instituição, contra a moral burguesa, o que reina agora é a metelância. Por isso, se alimentem, sinta a sede e a fome dos séculos. Porque nesses tempos de seca cultural nossos espíritos estão famintos! Eles querem que pensemos e nos comportemos como ele, como podemos aceitar-lo? Afinal qual é o problema de dançar nu e correndo pelo parque? Viva a arte, meu senhor, somente ela nos faz atingir os limites e entrega nossos corpos para fins melhores e mais atraentes.
Não libertem os urubus porque são eles que comem a caniça da nosso criatividade, suas fezes trazem o branco da modernidade e quem precisa dessa moda quando temos nossos orgãos para fazer música? Mantem o bicho para nascer a criar, matem-no que a PAZ está para brotar.

Figurinos filosóficos personalizados

Envenaram a sua cabeça para pensar como eles, lhe impuseram desejos e conceitos que te encaixaram como último modelo de fábrica e em troca, sabe o que vc recebeu? Um estilo de vida novo em folha então, como se sente? E a formalização desse contrato e o sucesso dessa moda transparece no desprezo que essa geração nutre pelos outros paradigmas da vida moderna. O mesmo sistema que através de suas matrizes distintas podruz padrões "personalizados" para as mais diferentes idades. Logos, as personalidades são desenhadas em estúdios de designer e motivadas nos escritórios de publicidade. Todos saem satisfeitos das longas filas de fastfood, para o burburinho das ÁgorasCenters.
E o que acontece com aqueles que estão a margem desse figurino filosófico? Desistirão, oferecendo as costas para o cancro consumista da sociedade moderna? Estariam eles dispostos a alimentar seus espíritos com existências alternativas, naturais e mais saudáveis? Não. Como animais domesticados estariam prontos para matar a si mesmos se isso lhes garatisse o último exemplar do estoque. Então, minha vida não tem valor se meu corpo não veste um número 34? E assim, o reconhecimento das pessoas está nos sapatos que ela traz consigo. Dessa forma se nos apresentam as pessoas a nós e aos outros todos os dias, seja nos refeitórios ou nas salas de reuniões.
Afundo meu ânimo em copo de teor alcóolico entre 38 e 40 para que meu espírito atormentado não desista de hastear a bandeira das minhas verdades, mesmo que ninguém esteja disposto a escutá-las eu resisto até as últimas trincheiras. Mesmo assim, nem mesmo a minha impertinência é forte o suficiente para suportar toda a noite.. logo, debando do meu posto e desfruto de uma longa caminhada com essa lua que tão linda está nesse céu sem nuvens.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Existe uma metade de mim que ainda me espera?

Se existe, já faz muito tempo que se foi; os mesmos novos ares que buscava foram os que a levaram para longe de seu par. Mas será mesmo que foi ela quem me abandonou ou ao contrário? Estará me esperando em algum lugar, cujo o conjunto do ambiente, espera no fazer reconciliar? Estará magoada e arrenpendida de ter partido? As vezes penso que nasci mesmo para viver despedaçado. Como prato quebrado onde mil cacos se espalham pelo chão... por mais resoluta que seja a escova que varre sempre havará daqueles que se infiltram no frestas mais inacessíveis dos móveis.
Assim também é a condição em que - imagino - se encontra essa outra parte de mim que me abandonou. O que deve estar fazendo enquanto isso? Pior que essa minha fase não-linear de leitura e redação é essa desorganização de lembranças e pensamentos que agora reina em minha cabeça. Não tenho idéia do que eu seria se esta outra metade aqui estivesse; talvez esse desconhecimento, que eu possa estar confundindo com esquecimento, explique o fato de eu estar sentindo falta dessa parte ausente. E donde será esse lugar tão melhor do qual eu vivo hoje? É raro ouvir de novo sua voz, engraçado mas parece mesmo que as reminiscências no fazem cócegas na barriga.
Certo mesmo é que eu não vou me desgastar na espera e tampouco na procura, o que tenho aqui é demais precioso para que eu me aventure por eldourados invisíveis. Entretanto, o que não posso negligenciar também é a possibilidade de que algum dia esse rio que conduz a minha e a história de todos me leve para lugares aonde nunca sonhei estar.

domingo, 5 de setembro de 2010

Imagens do Inconsciente

Deixa esse novo amor chegar
Mesmo que depois
Seja imprescindível chorar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Exílio

Foi um exílio involutário este imposto sobre a minha vida, de um golpe minha rotina foi alijada e fui obrigado a fazer novos amigos sem estar descontente com os antigos. Conto essa história não para lamentar de meus pesares, mas simplesmente para preservar na memória aqueles que não tiveram a mesma sorte que a minha e para fazer crer a mim mesmo que não estou louco. Escrever foi o único remédio contra a solidão que encontrei na cidade natal que não sabe mais quem eu sou. Tento me apresentar a ela todos os dias, mas não é só a indifireça que responde, é também o medo.
Foi naquela tarde de príncipio de agosto após o meu retorno que percebi que ainda estava em exílio. Eram as mesmas ruas e as mesma feições circulantes - paracia que nada havia mudado - cheguei até a reconhecer aquele mendigo que costumava repousar na esquina da Santa Fé com a Uraguay a quem eu já havia ofertado algumas moedas. Entrando no restaurante que era de meu gosto desde os tempos da juventude tudo o que queria era cumprimentar o velho Jorge que sempre me atendia com um sorriso no rosto. Entretanto, o que era o calor de uma amizade passou para o frio tratamento de um seviço comum, um cliente qualquer era o estava em sua frente.
- Hola, Jorge! Como estas?
- Bien, lo que vos deseas?
- No te acordas de mi?
- No, quien sos?
Era assim em todos os lugares e com todas as pessoas, a maiorias de meus conhecidos se quer estendiam a mão, prefiriam correr, fugir do meu fantasma. Os anos me apagaram de suas memórias ou envelheceram o meu rosto por demais? Sentir essa solidão em meu próprio páis não se comparava a qualquer desterro. Se eu não era mais nada para eles o que poderia ser para mim mesmo? E esse vazio interno me comia a medida que percebia que meus amigos de infância também haviam desaparecido. Se eu era extrangeiro aonde havia nascido donde estaria a minha pátria? Minha busca continuou pelos bares e café que a insônia me impelia a frequentar, até que um dia uma linda mulher se aproximou de minha mesa e perguntou: "- Vicente!, donde estebe por tantos anõs?" Eu não a reconheci e foi então que percebi que já estava morto a muito tempo.

sábado, 28 de agosto de 2010

Carta não entregue

Será que vc tem medo de mim? A aparência da realidade esconde mais do que as poucas palvras que trocamos podem dizer. Sinto então, que a fronteria que nos separa é impermeavel às verdades - aquelas cruas que ardem quando jogadas no rosto - pois o que constitui a nossa relação são as solicitudes indispensaveis de um contrato entre pai e filho. Mesmo assim, os inúmeros rompimentos e omissões me fazem crer que nossa torre de concreto não é tão transparente como cristal, porém é tão frágil quanto. Entretanto creio que o que realmente te anima é que a construímos juntos.
Durante todo o tempo tento esconder o que a minhas malcriações expressam de maneira tão inequívoca. Me perdoe, minha insatisfação as vezes é tão grande como o seu conformismo. Será que o amor parternal é tudo o que nos resta? Seria o suficiente para preencher esse vazio que eu sei que vc carrega? Mas até nisso apresentamos equivalências; temos grandes vazios que nunca se perfazem, a diferença no entanto esta no que usamos para intentar completar-los. Seria grande exagero dizer que me tornei o que sou hoje por influência sua? Se vc algum dia foi a medida de todas as coisas para mim, hoje é muito do que eu não quero ser. Palavras tão pesadas como essas fariam desmorar todo esse castelo de cartas que armou com toda a paciência que não tinha. Destruiriam aquilo que mais admiro em sua pessoa, sua ternura?
Relutei em muitos momentos da minha vida dispor em papel esses pensamentos que me molestavam tanto, estimulado hoje, regurgito o que tanto popei para a minha cabeça. É um pouco dessa necessidade de manifestação que eu entendo quantas vezes vc pretendia tolher. Pretendo sair dessa casa, contra sua vontade, mas não por despeito, raiva ou rebeldia. O que reservo para vc na verdade é justamente o oposto, respeito, compaixão e carinho; então saio, porque creio que vc me deu tudo o que eu precisava.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Carinho estropiado

"Somos muitos os que andamos com o carinho estropiado, mas é preciso ter valor para tirá-lo de dentro estropiado e tudo. Acho, agora, que é algo que temos de aprender, como tantas coisas na vida."

É como um parto de alto risco, uma semente cultivada em um útero de merda que se agarra a essa possibilidade de nascimento - de vida - como se nada mais importasse. Porque sua própria existência depende dessa possibilidade; uma vida errante de solidão não alimenta um corpo com ânsias de carinho, por isso nos preparamos nesses nove meses de esperança ou duas décadas de ângustia para o que virá à luz do dia. Sinto o peso dessa necessidade, desse fruto que madura enquanto minha desesperança cercea seus ensejos de sobrevivência.
E meus passos são largos, mas lentos porque tento deixar meus ouvidos atentos para o seu derradeiro chamado que sinto, nunca escutarei. Busquei toda a minha vida o isolamente completo e absoluto porque o vazio das multidões terminava por me corromper e o cansaço que carregava comigo me impedia de me apaixonar por qualquer uma a mais passante que fosse.. E a solidão assim não me parecia tão ruim, pensando que tantos anos de desencontro comigo mesmo me fizeram tão mal, quiçá fosse a oportunidade para conhecer aquilo que o pessimismo escondia, minha salvaguarda. A melodia de seus suspiros juntaram um pouco da minha alma que estava esparramada, todavia essa procura por um retiro de pedras, frio e isolação me parece atraente. Me perdoe se sinto que tudo que tenho para dar ao mundo é esse grito surdo de felicidade que ecoará pela eternidade nesses inóspitos rincões da Terra.
Será que a humanidade aceitará mais esse ser enjeitado que procriei entre páginas garranchudas e amareladas de meus livros e anotações? Teus braços se abriram para este carinho estropiado gerado por meus amores antepassados? Não importa, saibas apenas que no próximo verão baterei sua porta e oferecerei o meu coração ignorando a reciprocidade de seu colo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

¡¿Grande pedaço de merda, hein?!

Por que tantos conflitos internos, por que tanta tensão, por que tanta incompetência? Te colocaram para viver entre os homens para que sinta necessidade de fugir deles? Todo esse desconforto tece o nó do meu enforcamento. Renascimento na sala de jantar e toda a eternidade para reaver meu fôlego; ar que falta a um peito cansado e curvado, arco que se acentua a cada dia mais com a intemperança dessa rotina; cotidiano de uma multidão de gente que não quero conhecer, lugares que não quero visitar e coisas que não quero fazer... Então, por que continuar tentando?
Sim querida, me sinto desgraçado essa noite e esse ar gelado só me faz querer uivar, uivar durante toda a noite. Por que tudo isso, vc pergunta? Minha resposta sem sentido, assim como toda a minha vida, seria: me dou melhor com as estrelas do que com os homens.

Auuuuuuuuu!

terça-feira, 27 de julho de 2010

¿Adios?

Nasceu em uma tarde fria e pesarosa, debilitado e sedento por vermes, aquela criatura não podia balbuciar mais do que alguns agudos e intermitentes pedidos de auxílio para aquela mancha negra que bloqueava sua vista. Sua protetora e progenitora atendia licenciosamente as necessidades que um foco de vida nascente clamava. Foram alguns dias ou talvez semanas - para um amor incondicional o tempo não é uma questão importante - de dedicação e oração. A fase de dependência atravessava a incerteza da sobrevivência de um físico prematuro para alcançar as frias conseqüências da liberdade.
A frieza se traduz em ingratidão e abandono; dor que é dissimulada com o orgulho e respeito pelas proezas de um espírito principiante e pujante. Auto-suficiência aqui é também desobediência de um peito robusto, asas estendidas e lá se vai a prole em sua primeira aventura. Não há despedidas nos processos biológicos naturais e por isso também não existem lágrimas. O aconchego e calor de um ninho de gramíneas e penas velhas não chegam aos residentes do céu, então, porque tanta resistência a uma certeza? Desconsolo ou desacomodação a uma nova situação? Essa é a historia de um abrigo vazio e quantos a minha vida já não teve...
Sem qualquer suspiro de angustia a madre de crias e sentimentos pródigos permanece imóvel enquanto um dos frutos de seu útero ganha o ar e mergulha para longe de seu seio. Hastes delgadas que guiam um ponto negro ao infinito do horizonte. Quadro que se repetirá não apenas em tantas outras arvores, mas também muitas vezes mais nesse mesmo galho que o desprendimento e resignação cultivou-se com tanto carinho e ternura.

domingo, 18 de julho de 2010

Um dos lugares em que nasci

Como posso definir o lugar donde nasci se sinto que em cada lugar que estive dessa vida existe uma relação de pertencimento? Se o que sou hoje não passa de uma antologia de experiências que desfrutei e que cada nova estrada me toma por uma pessoa diferente. Trairia minha pátria ao dedicar meus dias a um outro povo? Olvidaria meus antigos valores e costumes familiares ao me entregar a um rotina distinta? Mais do que uma vocação a ser viajero, o que tenho é esse desejo profundo e intermitente que não se ilude com os ideais de estabilidade e comodidade – um querer demasiado ao mundo e a todos os seus viventes – sei que esse é a verdadeira utopia do cosmopolita, porém o que posso fazer se elegi como nação a terra que meus pés descalços tocam?
Envolto em seus braços desnudos e sentindo os suspiros de seu prazer chego até a cambalear, pensar em meu instinto natural como um grande embuste e sentir que em seu leito estarei sempre seguro e satisfeito. Fantasia que transborda nessa sensação de acolhimento incondicional, prazer simples e honrado, contudo o medo da reprovação me espreita e acostado junto ao meu corpo resfriado me faz, ao despertar, querer fugir e deixar no passado o que poderia ser meu futuro. Todas essas queixas do meu espírito caprichoso me servem para validar o que aprendi enquanto o asfalto comia os pneus da minha carroça... “em esses anos de vida nascemos e morremos muitas vezes.” Nasci nesse oásis de espírito deixando para este corpo fatigado um pouco de descanso, amparo criado no seio da hospitalidade de uma família mendocita e no acento de sua palavras carinhosas.
O que as vezes pode te custar a entender é um pensamento deveras mesquinho e quiçá inconseqüente – cosmopolitismo exacerbado, entretanto é o que acende a chama de minha ânsia pela vida e que sustenta minha coluna curvada pelas dores cotidianas. Lembre de minha palavras, lembre de meus modos e não se esqueça que hoje todos os meus beijos são para vos, porque, em contrapartida, é somente isso que preciso levar de sua terra e de você.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Seras el lugar que busco?

"- sabes que? ahora me hiciste acordar

- hay un lugar en mendoza que se llama isidro

- isidro es un lugar en la montaña, no muy alto, en donde hay energia pura y absoluta
- te voy a llevar si podemos

- viene gente de todo el mundo

- dice que es porque es sol tiene una coneccion directa con el centro de la tierra

- vienen muchos a estudiar ese terreno
de todo elmundo

- es un lugar muy cuidado,muy reservado
cerca de un lugar al que llamamos challao
- mi mamá fue un par de veces, yo no he ido

- estas bien?

- que pensas?

- quien sos vos ?

- con miedo a vivir?
- o con miedo a encontrarte con vos mismo?

- creo que sos el unico que sabe quien sos realmente, solo Dios y vos
- sos el unico dueño de tu verdad"

This is the end, my only friend, the end

Se nos colocamos em busca do infinito, do labirinto ou do além o que deve realmente estar posto são os caminhos que tal peregrinação tomará. Se aspiramos ao desconhecido o certo é que não existem estradas únicas e verdades inexoraveis, importa então somente que nossa trip de autodescoberta não colida com trilhas alheias e com um feitio egoísta congestione toda a Via-láctea. Todos os córregoss desembocam no ralo do absoluto e se todas as ideologias estão mortas, por que não revivermos as crenças pagãs passadas para nos darmos uma existência menos dolorosa?

sábado, 19 de junho de 2010

Cuide de você

"Sophie

Há algum tempo, venho querendo lhe escrever e responder o seu último e-mail. Simultaneamente me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se nã me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a "quarta".
Mantive o meu compromisso: há meses deixewi de ver as "outras", não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas. Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar putros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, simplesmente feliz e "generoso" se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso.
Achei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comcei a procurar as "outras". E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar. Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,...) e compreensível (obviamente...); com isso, jamais poderia tornar seu amigo. Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de aprender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontece saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhcemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nís e que permanecerá único.
Gostaria que tudo tivesse tomado um rumo diferente.
Cuide de você"

Uivo

Dor intestinal e a tortura das conversas alheias que te excluem de uma mundo qualquer que não te interessa - casais, crianças, idosos, todos de aparência tranquila e pouco miseráveis
que constrastam com a minha condição de desgraçado que desconhece laços e despedidas
que observa e uivas enquantos os transeuntes passam e lançam migalhas de atenção e agradeçe aos poucos que tentaram penetrar o muro de arredismo
que a embriaguez corrói e corrompe, enegrecendo as vistas ao invés de permitir o passe livre para o trato social
que grita para aqueles que duvidam da peste e foge para não contaminá-los, assumindo assim o status de herói ou covarde
que brinda em comemorações sem significado para não usurpar o bom humor que copula a todos os semblantes e sendo assim, apresenta da mesma forma um sorriso de merda no rosto
que trava um embate pessoal contra o pessimismo e o desespero ao se convidar a ambientes hostis
que masturba as chances de dignidade enquanto corre da vergonha da descoberta de seus atos escusos, porque insiste em mostrar máscaras
que devem ocultar a pele deformada pelo cancro e o espírito dissolvido em páginas de poemas, contos, teses sem sentido
que treme ao relento esperando a alvorada surgir sem um pedaço de carne fresca para se aquecer ou transar
que chora e resmunga desenjando a morte e o fim dos dias que antecedem o milagre da autodescoberta ou quem sabe um resnacimento

terça-feira, 15 de junho de 2010

Desejos de uivar

A vida, o gozo, o desabrochar do que seram feitos? Que momentos/sentimentos conseguem promover tal concretização? Construímos a nós mesmos dessa imperiosa vontade de viver? Ou erguermos esse edifício através de experiências e suas ulteriores digestões, algumas de efeitos extremamente deletérios? Movimento natural mas de complexa interpretação. Tudo tem um tempo particular e exato; algumas árvores desabrocham suas flores somente após a primavera, alguns frutos maturam sua carne depois do período da fome. Pergunto então, devemos culpá-los por tal especificidade ou excentricidade? Ou poderemos respeitá-los quanto a sua natureza e humildemente apreciar sua beleza?
Apreendemos o universo através da percepção, fabricação de uma imagem da qual daremos colheita dos conceitos que posteriormente servirão á sua interpretação. Procedimento enviesado que cedo ou mais tarde engessará nossa qualidade de apreciação, pois não atentaremos mais ás peculiaridades inatas, mas apenas aos resultados de análises rigorosas. A beleza não pode ser algo normal ou estanque, mas sim, idiossincrática e mutável ou seja puro prisma póetico. Además, quem duvida de que o medonho para uns, pode ser atraente para outros? Sabes, é daqui que eu distingo a verdadeira graça de pertencer a espécie racional.
Entretanto, para outros essa multiplicidade pode parecer perigosa, essa não adequação á categorias cartesianas impõe necessariamente uma barreira á ordem, afinal que regra sobreviveria á tantas exceções? O grande cranco do coletivismo é exatamente esse sufocamento arbitrário do individualismo; em função da promessa de justiça social entregamos a possibilidde da crítica existencial, seja material, imaterial ou coisa que o valha...
A cada vivência pessoal e individualizada nós moldamos um aparelho pessoal interpretativo da realidade que pouco terá de vulgar e nossas opiniões, comportamentos, aspirações consequentemente já de muito estarão determinadas. Como eu disse, a cada personalidade é estipulado um prazo único de leitura e posterior decomposição. Que mal tenho eu se só consigo enchergar tranquilidade e inspiração na matéria viva da natureza, se encontro beleza nesses estados cotidianos e naturais de putrefação? Se "uma melancolia solitária torna-se base de uma grande poesia lírica, e a fuga para a vida ídilica do campo, uma necessidade imperiosa provocada pelo mal-estar que os romanticos experimentam quando se encontram na cidade."? Então voltemos áquela infame sina da humanidade de que, vc sabe, até mesmo de sacos de fezes podem nascer flores, frutos e beldades!

domingo, 6 de junho de 2010

Aos que a sociedade suicidou.

Dêem-me espaço, pois eu preciso respirar, necessito da terra sob meus pé, de frutas frescas sobre meus olhos para me alimentar; dêem-me a vida que me sacaram quando me confinaram neste labirito de concreto: com vielas escuras, sem a sorte de Ariadne para me guiar e apenas olhares alheios a me suspeitar. Neste espaço cinza e estéril sufocam a cada dia nossa ânsia por transformar! E não negue corpo citadino, afinal como poderíamos enxergar se nossas vistas já estão supuradas de conformismo e indiferença?
É dessa ordinariedade anti-movimento que quero me libertar, dessa padronização do olhar, desse embrutecimento da sensibilidade imposta a cada dia sem cessar.Creem-me o sistema não pode nos parar, pois se mesmo entre as frestas de tijolos podem aspergir botões de rosas que nos impedirá de encontrarmos a verdadeira natureza da realidade? Por séculos nasceram entre nós seres capazes de penetrar o vazios do establishment comportamental, moral, artítico, etc para sobreviver em espaços pessoais de plena prcepção que, se particular, era também aglutinadora. Se duvidam. aventurensse sobre suas obras, sobre seus restos mortais de vivência que nossa sociedade ainda não queimou ou ingessou. Pois partimos desses mesmo passos, não para seguir em um mesmo rumo, mas sim, de uma mesma forma: libertária e inconciente. Chamaram a esta turba de loucos inconcequentes, mas seus esforços de represália seram mormente reflexos de pavores sonambulares.
Dedico estes escrito aos que a sociedade suicidou, aos que em batalhas individuais sucumbiram frente aos status quo sanitário. Resta nos, como orfãos desses mártires poéticos levar-mos oferendas a suas criptas, promover-mos odes laudatórias, mas acima de tudo, concretizar seus sonhos de impossibilidade!

domingo, 23 de maio de 2010

O que o autor está fazendo?

Quando infante eu costumava girar, rodopiar sobre o meu próprio eixo, de encontro a aspiral-de encontro a sincope, o que eu prentedia? Minha inspiração estava no movimento pelo movimento e a minha aspiração alçava ao mundo da imaginação. Toda aquela jogo de criança contemplava na verdade o processo criativo; não era deliberado, não era voluntário, o que estava em questão em minha mente juvenil era o afã e a roda. Simples e tangível para qualquer ingênuo exemplar da minha idade, mas o que eu descobria ao poucos era o pacto tácito entre imaginação e criação. Acordo poético assinado entre artistas e o patamar etéreo sem cláusulas de restrição. Então, por que tão pequena adesão?
Questão de pouca valia para aquele que abstraia de um estado clínico efêmero as asas para a imaginação. Sim, eu diviso no estágio antecessor a perda de conciência um princípio ativo para a criação. Se nem todos os homens são iguais também nem todos os processos de produção artística o serão, logo o que tenho aqui a propor é apenas um deles, a vertigem criativa! Perceba com claridade no movimento, no silvo da brisa e no desequilíbrio dos sentidos aquilo que pode chegar a expressar um objeto de curiosidade, atração e em tantos casos, admiração. Refaça então seus passos até a idade em que essa revolta corporal era comum e encontre nestes instantes seus pensamentos mais instigantes.
Reviva aquela força motriz de idéias e imagens, perceba nos tons claros e luminosos destas miragens distorcidas da vertigem o que os homens taxados de artistas plásticos ou loucos libertários chamaram de obra de arte e não se acanhe ao revelar que a criação artística está dentro de vc, é inerente a raça humana e sua razão subjetiva de viver.

Entrada só para os amantes de Arte

É uma curta caminhada de minha casa até a estação de trem, para torná-la atrativa e menos cotidiana eu a prolongo, traço um labirinto desnecessário por puro prazer; conduzindo por ruas estreitas e convidativas, sentimento de conforto expresso pelas bucólicas e pequenas casinhas que as rodeiam. Pequenas a princípio, porque minha experiência narrada aqui manifestará labirintos que eu jamais poderia espremer de minhas tolas jornadas matinais ou até mesmo impossíveis do próprio Dedalus conceber. Uma portinhola e nada mais, é assim que começo a minha história sem mais estas delongas iniciais.
Um convite, um iluminado e instigante letreiro que destoava de toda a paisagem; a mensagem, em letras garrafais e amigáveis, dizia: “Museu Lasar Segal - Entrada só para os amantes da Arte.”. “Que tal trazer um pouco de mais de cultura à minha vida?” foi o que pensei, idéia que mal tomara forma quando cinco minutos depois eu já estava entre os quadros, entre objetos que me suscitavam perguntas, entre olhos que perfaziam retratos ou auto retratos segundo outros, afinal pode ser qualquer coisa. Mas veja, eu que tanto queria desenhar uma narrativa, acabava cá a discutir sobre gêneros de pintura. Isso, pintura! isso era o foco de minha tela, quero dizer crônica; os dois no caso, pois não foram os objetos que, como fábulas, escorreram daquela superfícieeecheeeheheh arenosa e cubista das molduras?
Na exposição então, não era mais Segall quem me guiava, deixado livre transladava por meio àquelas vielas e becos de possibilidades até eu perceber que não eram apenas composições de óleo sobre tela, mas espelhos que refletiam um pouco do que eu era e mais do que eu poderei ser, quiçá um dos corpos cadavéricos e famélicos a espiar pela janela. E desse adensamento do olhar que, como uma curiosidade Alice, eu adentrava as diferentes portas sem nem saber se a passagem era minha ou se o artista permitiria. Em uma delas um primeiro grande abalo, uma sensação de aflição provocada por uma realidade nem um pouco abstracionista. O cenário era de medo e desengano, centenas imigrantes buscando refúgio no além mar contra os orgasmos políticos que explodiam seus lares e pátrias, muitos deles irmãos de meu anfitrião.
O trauma daquelas dores e a maresia do mar me fizeram regurgitar – um vômito de preces, elogios e desejos de esperança que vertiam de mim até transbordar do quadro para de novo me materializar naquele corredor de labirintos da mente humana. Contaria um pouco mais sobre as minhas outras viagens, sobre esses outros mundos da experiência humana, mas isso demandaria tempo e paciência para dizer-lhes o que aos poucos estamos aprendendo de que "a percepção, o sentimento das nuâncias na arte é uma espécie de treinamento não consciente para a percepção de outras coisas na vida.” Antes da despedida prematura receio uma última questão a despontar na curva final de minhas elucubrações e a faço para que o apito de partida não soe sem mim a saída de meu trem: será que eu poderia chamar tudo isso de mediação ou não?

domingo, 9 de maio de 2010

Mas o que é um Parangolé?

Expressão viva, policromática e inebriente de um corpo/capa/dança sem fins objetivos; nessa experiência, o subjetivo prevalese permeado por nuâncias de racionalidade. Creio que melhor do que definir, seja por a prova o gosto de tal espalhamento artístico e sobretudo humano. Porque o que se apresenta, além das cores e movimentos é algo inconfundívelmente humano, fruto conflitantes ânsias, sentimentos, forças criativas que se degladiam para trazer a luz este ensaio de elevação!
A elaboração, a teoria por trás de tal comoção plástica tece a complexidade de um pensamento intimamente ligado ao âmago libertário. Quero dizer, a fluidez de tal criação nada mais é do que reflexo comum a todos os indivíduos, ou seja, trazemos isso dentro de nós mesmo. Se "museu é o mundo", então nosso ser é também, uma estrutura para exposição nem um pouco tradicional. Mas o que é um parangolé? Tomado pela ascensão do espírito por aquela nova manifestação concretista, mantinha dentro de mim a velha revelia contra as quebras de paradigma, porque um ou muitos dos meus eu's é intransigente, intolerante e reacionária. E apesar desta resistência intestinal eu conseguia sentir, apesar da convulção interna de idéia e condutas, a transmissão corpórea, visual, sensorial no caso, era completa, era significativa.
"Eu aspiro ao labirinto", era o que Hélio Oiticica dizia, ter como grande objetivo de vida o perder-se em si mesmo, me parece tanto com um ritmo de vanguarda como também uma proposta de suicídio da lógico, pois tudo que brota de nosso inconsciente pode ser tudo menos coerente. Assim, esse mergulho poderia trazer consigo grandes descobertas a respeito do gênero humano, entretanto estes mesmo dados se perderiam em qualquer tentativa de retorno a nossa realidade. Me mantenho são ou dou uma chance para a insanidade?

domingo, 25 de abril de 2010

Hay una cosa que no puedes cambiarte

Existe uma coisa que não se pode cambiar, semelhante a sanha, porém mais transparente em suas cores, envolve a todos os homens, negando os e ao mesmo tempo afirmando os em seus fins. Tal impulso ganha expressão em seus atos; uma força que ganha caráter de distinção aos que são eivados por sua insanidade apesar de ser um elemento contituinte a todos os seres. Tal descrição se aplica a uma única paticulariadade, ímpar no império dos sentidos, inata a humanidade.
A História conhece bem esta peculiaridade, pois o processo histórico compreende toda a sua narrativa. A narrativa dos grandes homens ou heróis como diria Hegel, que movidos por este ímpeto construíram a História Universal. Meta que não compreendia sua felicidade pessoal, mas apenas satisfazia uma demante interior que apenas calava-se ao calor da batalha. Confronto travado por diferente vias, afinal existem diversos tipos de guerra, nós todos o sabemos. A vitória então, está ao alcance das mãos de qualquer mortal, entretanto somente alguns triunfos garantirão a imortalidade daqueles que o conquistaram. Entende?
São exatamente estas glórias que fazem girar as rodas da história, seu movimento é dependente destes heróis que empelidos por verdades intestinais, em sacríficio de uma existência privada confortável e tranquila, provam seu valor nos anais dos grandes historiadores. Relatos que bem valeriam o nome de Odisséia, mas cuja importância são destacadas anos depois nos marcos cronológicos divisórios que sustentam.
Mas a entidade da qual eu trato não se revela apenas nos grandes feitos, ela também permeia o cotidiano dos homens comuns. Este enigma começa a seduzi-la, não é mesmo? Como uma divindade, ela julga em seus desígnios os favores por nós solicitados; tais clamores não são esparramados sobre altares ou livros sagrados, mas unicamente no coração dos desengados! Minha redação não estanca aqui nas condições exigidas a estes privilegiados ou eleitos por esta proteção, questão esta, que para mim, é submetida unicamente ao letígio do acaso. Me interessa a compreensão, a reflexão emprestada a ocasião. É a chama do fogo da paixão que se extingue em meu peito ou a ardência de incêndio que deixa neste desnorteamento? Paixão, palavra-verdade, desafio e instigação dos espírito dos homens.

domingo, 11 de abril de 2010

Donde estas mi Destino?

A razão de uma vida está em seus momentos, é na especificidade destes fatos que encontramos a justicativa de uma existência. Então um único flagrante pode definir todo o seu destino, é isso o que Borges dizia e ai está uma verdade na qual eu acredito. Como poucos instantes podem carregar consigo a desculpa de tantos anos? A resposta não está na lógica cartesiana, mas sim, na crença de um sentido para a realidade. Em um labirinto de perspectivas, só nos resta acreditar no corredor menos nublado. O que eu tento a explicitar aqui é a fé de uma convicção.
Por regra uma vivência é constítuida de percalços, simples objeções a planos traçados com afinco e esmero. Obstáculos estes que derrubam até a mais forte e sólida das seguranças. Picos entre vitórias e derrotas que derrubam até o mais nobre dos espíritos então, aonde reside o significado desta guerra (se é que a destruiçao prove uma direção)? Uma inclinação pessoal me diz que as pergunta existencialistas não admitem respostas... Vivemos a mercê então, de nossas idiossincráticas verdades? Acaso este que não dá sabor as narrativas, muito menos ao cotidiano. Por isso, esse texto não é uma concessão ao pessismo, mas antes um levante em favor da esperança de ventos melhores!
Deixo então, para o último parágrafo a descrição da ocasião para tal provérbio :"Cualquier destino, por largo y complicado que sea, consta en realidad de un solo momento: el momento en que el hombre sabe para siempre quién es." Esta aqui, a oportuniadade que desenhará os limites da trama ou o que eu humildemente chamerei de meu destino. Que o produto da adega seja farto e os gozos infinitos!

domingo, 28 de março de 2010

Geración de los Derrotados

Sinto por mim, pela minha memória não ter guardado os momentos pueris dos meus primeiros anos. Não apenas pela incompletude que agora perfaz minha identidade, mas acima disso pela perda de um refúgio incólume contra a insanidade mental. É a ingenuidade infantil o último bastião de negação ao movimento de cretinização cotidiano. Imunes a solidão inerente as multidões, os pequerruchos demonstram em sua sinceridade a afabilidade a qualquer indíviduo anônimo. Na infância não existe distinção, sobra somente a desorientação.
Exatamente pela ausência da autoconciência, os contingentes desta tenra idade são exemplares únicos de coragem e obstinação, seu temor não é pelo desconhecido e sim ao que já os tem ciente. Preservar essa fase da vida é adiar seu ingresso à Geração dos Derrotados, classe/condição inexorável que contempla todo o mundo real, destino justo ou não, ele é inapelável. Tal predestinação não pode interromper o fluxo natural do desenvolvimento humano, pois inocência aqui, não é apenas uma vitude, mas também uma dádiva.
Trato a Geração do Derrotas como um acontecimento ou fenômeno contemporâneo ao processo de urbanização e crescimento populcional desenfreado. Sinto essa aura de derrotismo expressada na marcha das grandes turbas, é aquele passo compassado e quase coreografado que eu percebo esse isolamento, sentimento contraditório ou não, ele me consome como um grande vazio. Um nuvem negra que a todos cobres, menos àqueles desobrigados às suas imposições. Expostas essas impressões, minha reação frente ao gozo sem contextura de um infante ganha sua justificativa. Não sinto compaixão ou conforto, sinto sim, um desgosto íntimo por não me ser possível acessar as mesmas sensações memoriais.

sábado, 13 de março de 2010

E eu, existo?

Há algo de engraçado em ser uma criatura pensante; engraçado aqui, é utilizado como eufimismo para uma qualidade perniciosa e antes disso, assustadora. O que nos diferencia dos animais, nos torna também síntese do que eu chamarei: a dialética da prodigalidade e do amesquinhamento. Porque, penso assim, astuciosos sofismas podem nos fazer crescer e enobrecer, da mesma forma como a insistência em tais engodos pode fazê-los ruir e desmanchar todo o edifícil de cartas de nosso orgulho. Não sei se estou sendo claro, estou?
Partimos de uma tendência que almeja nada mais do que a satisfação e esse objetivo nos confere essas condiçoes de incertezas e constante volubilidade da quais nos revestimos. É a dúvida que nos tira do pedetal para a armagura das sarjetas, escodemos em nós mesmo deste modo, nosso maior inimigo. Da mesma matéria e corpo nascem tanto os sonhos como os pesadelos, vê como nos perdemos dos fatores externos para mergulharmos em um labirinto de instrospecção? Uma mesma idéia ou vontade guarda em seu cerne essa semente que desabrochará segundo as inclinações de nosso temperamento. Então, não dependemos de outros para nos auto-destruir? Não e nem dos outros para sermos felizes, acredita? Escrevo isso por um motivo - vil e egoísta - porém suficiente. Eu não existo mais e nesta declaração está a minha motivação, deixarei para os outros a vida que tanto prezam sem a terem desejado. Grato e perdão!
Quando uma árvore morre, seja um frondoso jacarandá ou um austero pinheiro, ela perece primeiramente por dentro e paulatinamente, conservando em seu exterior ainda um aspecto de viço quando seu veio nada mais pode oferecer. Inversamente a este padrão eu apresento o meu exemplo, pois não é o meu âmago que está a padecer e sim a minha aparência presente, o que está visível às vistas alheias, entende? Meu íntimo ainda sobeja de vida e convulciona seu conteúdo com estímulos distantes ou indiferentes. E sabe do que este núcleo é composto? De reminiscências, memórias que eu tenho certeza nunca expirarão apesar de eu, visivelmente estar morrendo a cada dia um pouco mais...

domingo, 7 de março de 2010

Afundado em minha trinchiras

Esta sucessão de decepções incessantes está começando a me cansar - não que o meu espírito não esteja acostumado - porém, meu corpo começa a arfar sobremaneira e pedir arrego. Tendo em vista a dificuldade que é impor qualquer resistência em ambientes adversos, me ponho aqui em mais um relato sobre a minha valsa solitária entre as cem mil bolas de neve; sim, uma avalanche se avulta sobre minhas débeis defesas. Força e vontade, unidas em um mesmo ímpeto de sobrevivência, uma batalha da ânsia contra o desânimo... Davi contra Golias?
O tom dramático desta notas autobiográficas tem suas cores nos acontecimentos dos últimos meses. A figura da torrente branca e gélida, ganha expressão em favor da licença poética e da timidez congênita às emoções que não transpareço cotidianamente - com excessão das ditas mesas de bares esporádicas. Venho manifestar aqui mostras de minha solidez e covardia, declarações ocultas que se contradizem costumeiramente, entretanto, com razão de ser aqui, no caso presente. A rijidez aparente está em meus silêncios e dissimulações, são indícios análogos à obstinação exibida por Raskolnikov e meu temor, diferentemente deste, não esta no ato, mas na ausência do mesmo. Minha impassividade também é sinônimo da tacitude, do temor posto contra a revelação. É no branco dos meus olhos em que se esconde a verdade, inacessível na maioria das vezes. Isso me deixa mais firme ou vunerável?
Somo o resto da minha disposição contra esse inimigo interior, cuja potência aumenta em função diretamente inversa a minha debilidade. Então, não me levantar em armas frente a este monstro branco de todos os dias é dizer a vc que vou desistir da vida e me entregar as trevas e ao vício da negação. Não é o que me proponho a fazer; negar a chance de viver é obedecer a desistência, é renunciar a virtude, é abdicar da glória.

quarta-feira, 3 de março de 2010

[...]

Se eu realmente mereço toda essa merda que me mandem logo pro inferno...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Apologia à memória

O uníca meio que pode atestar a minha existência é o conteúdo da minha memória, pois é dentro deste caldeirão de reminiscências que se encontram o material ou a documentação necessárias ao processo de verificabilidade desta tese: a de que eu vivi antes do tempo presente. Procedimento empírico simples, mas que demanda dedicação exclusiva. Absortos neste pensamento, criamos a mesma imagem em nossas mentes - sem um sustentáculo efetivo à vida terrena, somos somente corpos a flutuar. O passado então, para mim, não é nada mais que uma âncora ou um porto seguro; o primeiro refúgio de nossa identidade.
Todo este prólogo sobre método científico me serve para penetrar no cerne da questão principal deste texto, que me ficou inculcada estes dias. À narrativa de vivência de qualquer indivíduo pertencem outros tantos seres animados, pessoas que num momento ou outro cruzaram nosssa trajetória e a marcaram de alguma forma. Às vezes indelévelmente outras tantas em algum episódio efêmero qualquer. O que me importa neste processo de investigação não é o caráter qualitativo desta marca, mas o resgate desta longa duração (não tão longa para alguns), a reconstituição deste caminho sinuoso e incerto, sabe? Infelizmente, não são todos os personagens desta estória que conseguirão deixar vestígios vísiveis em nossa lembraça. Verdade cruel ou máxima inegável, em sua maioria seriam como se nunca tivessem existido. Então, a que parte do seu mundo eu pertenço? Àquela premente em sua memória ou à relegada ao esquecimento?
O que me conforta em lembrar das pessoas é saber que elas me esquecerão. Pois - passo para a perspectiva pessoal - não existe qualquer preocupação revolvendo meu âmago que se entregue a questão da minha diferença ou não na memória alheia. Desfruto sim, da sina de ser olvidado de outrem enquanto sempre me irei recordar de vc.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Olhos de ressaca

Depois de 15 anos eu revia o mar; uma alegria intensa, que só fazia aumentar a medida que cruzávamos as ruas, tomava conta de mim. Enfim chegamos à imensidão negra e inefável, era noite, e tudo que eu conseguia divisar - as ondas, a areia e a luz tênue de distantes embarcações pesqueiras - só fazia contagiar o meu entusiasmo! Entretanto, apesar da sensação pueril que sentia, não estaria nela o ensejo para novos escritos. O alimento desta ocasião estaria antes na experiência subjetiva de tais momento, sabe?
Como o conteúdo de tantas outras conversações falo aqui somente do que senti e não do que eu vi. Me atentando a necessária brevidade do relato, pois uma prorrogação o tornaria enfadonho, destaco aqui o essencial. Foi ao alvorecer do dia seguinte, estava de novo face a face com aquele marulhar incessante, com movimentos compassados e descompassados e a cima de tudo sucedâneos com os quais me atraia para um tête-a-tête mudo. Naquele instânte eu compreendi e gozei a metáfora dos olhos de ressaca; olhos, cuja "força arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca." Então, eram os olhos do Atlântico que miravam suas vistas para mim e consumiam toda a minha atenção. Algo de maravilhoso e insólito me hipnotizou por alguns minutos, por que não me entreguei?
Aqueles lindos olhos azuis de refugo esverdeado me fizeram recordar os teus e das mostras de intensidade e encanto que tantas vezes eles me revelaram. Pois, também deste momento me veio à memória o fato de a eles também não me ter cedido. Sabe, teus olhos hoje continuam me guiando, visto que obedecendo à máxima que diz "só se tem aquilo que se perde", apercebo-me de que só agora consigo imergir em suas águas profundas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nascimento e morte

"- Nascimento e morte sempre chocam as pessoas.."

E no entanto, a primeira vista, aparentam ser acontecimentos tão díspares - engano para os que vêem assim. Ambos os processos tem a mesma raíz, sem um o outro não seria necessário ou possível, ambos se completam no governo que é dado pela natureza; na verdade, onde um começa o outro termina. Numa corrente sucessiva e por demais fluída que carrega consigo torrentes de lágrimas, sejam elas, expressões de alegria expansiva ou tristeza contida. Porque não importa a reação convencionada pela moral contemporânea, tanto um sentimento como outro são passivos de serem dispensados em ambos os casos. E é no sentido vinculado pelo verbo desta afirmação primeira que eu inicio o meu desabafo ou hino.
Não encaro a questão como resultado de meros pontos de vista conflitantes, penso antes, que este drama me fornece uma base para sustentar minha idéia de negação do bom/ruim ou negativo/positivo. Desacreditado prisma de compreensão; neste paradigma apreende-se as insuficientes e vulgares, para não dizer bárbaras, tentativas de se julgar ou entender a perspectiva do complexo âmago humano. "Só estou chocado", eu disse, réplica que nunca contemplaria em sua totalidade a convulção de sensações psíquicas que por hora tomou o meu
intestino. No dicíonário os sinônimos para o termo 'sentimento' podem ser tanto o ódio como o amor - ambiguidade incompreensível! Incompreesível para aqueles que nunca deles padeceram, isso é certo. Nesse universo de reações neuroquímicas que atormentam o nosso sistema neurológico, a condenação por quaisquer juízos tomados de assalto deve ser repreendida.. Mas afinal, este post é sobre nascimento e morte ou as reações humanas provocadas por estes? Eu diria ambos, porque foram estes dois problemas que motivaram o meu consolo/poesia e porque no cerne destas tragédia/comédia repousa uma incerteza que me é criativa, afinal por estes dias já escrevi, desenhei, cantei, chorei..
Percebes donde eu quero chegar? Diviso em ambos os temas o renascimento, a renovação, um sem-fim de continuismos e a sigela imprecisão que permeia tais eventos na esfera da sensibilidade humana. Assim, tanto um riso de pesar como um pranto de gozo podem dar o tom da cerimônia - rito que nunca contará com a minha presença - pois prefiro me manter afastado de maternidades e velórios, lugares de acesso restrito a lobos da estepe como eu, a não ser os que ponturam e definirão a minha vida.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Diálogos

"- Você sempre vê o mundo através dos livros.
- Os livros me ajudaram muito. Às vezes, ajudam mais que os seres humanos, não acha?"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A garota da sacada

"Em toda parte, onde quer que seja a vida, quer nas camadas áspero-pobres e mísero-humildes da sociedade, quer nas monótono-frias e enfadonho-asseadas classes altas, em qualquer nível, surge uma vez na vida de um ser humano uma visão, diversa de tudo o que até então lhe fora dado encontrar, e que, por uma única vez que seja, desperta nele um sentimento diferente de todos aqueles que lhe foi destinado sentir em toda a sua existência."

E essa uma vez teve um dia para mim, algo realmente suntuoso e de um brilho fulgurante que por alguns minutos desembaçou a minha vista das cores foscas que minha vida ordinariamente toma. Não tenho certeza se conseguerei transpassar com primor em palavras aquela corrente que percorreu todo o meu corpo em um átimo de tempo. Um sentimento diferente que marcou profundamente a minha alma. Sabe, há fatos ou pessoas, tomadas como definitivo, em nossas existências que muitas vezes passam por ela deixando nada menos do que insignificantes pegadas na memória. Creio, desafortunadamente, que o que me passou por este dia seja um exemplo desta sorte.
Tenho não mais do que poucas linhas para narrar o acontecido antes de eu me perder em deleite com estas doces reminicências que vão e voltam sem sobreaviso. Engraçado o destino dos homens, bombardeados a todos os intantes com experiências sinestésicas sem concequencias maiores, e então, julgam-se desnorteados após uma mera visagem e após isso, nunca tornam a ser os mesmos.
Tardo a inciar o meu relato, porque o peso daquelas impressões ainda toldam minha capacidade de concentração. Este conto não trata de um assunto de literatura fantástica ou pretende devendar algum escuso mistério humano, mas antes, conta com poucos detalhes - aqueles que a fantasia ainda não violou - do conhecimento que tive no mirante de uma sacada, na última sexta-feira, com a mais bela das criaturas moldadas pelo trato divino. O porvir da encenação entusiasmaria até mesmo o amante mais envaidecido, entretanto o engenho do meu procedimento teria que desapontá-lo no segundo ato. Pois, nada mais fiz do que observá-la naquela noite escura, aonde sua alva pele era iluminada apenas pela lua e pelas poucas estrelas que a noite paulistana deixava entrever. De cabelos curtos e negros que mal conseguiam encostar os ombros nus, ela me instigava com aquela insistência no nada. O que tanto refletia?
Que consolos buscava naquele ar insípido de madrugada fria? Presumo que sua sensação de solidão não era afetada pela minha presença, por isso, me mantive queto a admirar aquele estado de graça intocado.
Juro que as linhas daquela face nunca mais me sairão da cabeça, porque não era só a inanição daqueles movimentos que me tocavam e sim, também, a sutileza dos suspiros que ela dispensava ao léu. Jamais antes, a certeza de que todos os ritos femininos, sejam com quais intentos, eram realizados com toda a virtude e elegância, ficou tão clara.
Não posso dizer que sacrifiquei uma possibilidade, não posso acreditar em um enrendo que terminava com aquela dama em meus braços; tendo somente a suspeitar de que as mesmas intenções que motivavam o meu isolamento daquela festa arruinada eram as mesmas que assolavam a heroína dos meus cantos. Logo, escrevo não em face da chance perdida, mas em função dos ternos sonhos que aquela recordação tem me despertado a cada sono.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Imagens do Inconsciente



Somos todos filhos de uma mesma mãe, temos uma mesma origem que converge para um mesmo Deus criador e por isso, para um mesmo destino, a Deusa Terra.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Lilli

"Lili, take another walk out of your fake world
Please put all the drugs out of your hand
You'll see that you can breathe with no back up
So much stuff you've got to understand

For every step in any walk
Any town of any thought
I'll be your guide
For every street of any scene
Any place you've never been
I'll be your guide

Lili, you know there's still a place for people like us
The same blood runs in every hand
You see it's not the wings that make the angel
Just have to move the bat out of your head

For every step in any walk
Any town of any thought
I'll be your guide
For every street of any scene
Any place you've never been
I'll be your guide

Lili, easy as a kiss we'll find an answer
Put all your fears back in the shade
Don't become a ghost with no colour
'cause you're the best paint, life ever made"

Era uma dessas noites em que sabemos que nada irá acontecer, mas que, apesar do desconforto e da instabilidade moral, atentamos para a esperança que ainda nos resta. Esperança de quê? Não estou falando de mim, oculto entre essas linhas faço o mero papel de narrador. Descrevo então, no escasso talento que transparece destes vocábulos, o aparente conformismo daquela garota solitária que, encostada a mureta da sacada, aguarda o arrastar das horas frias de uma madrugada qualquer de março. Ela se chama Lilli, tem lindos olhos castanho escuro que não refletem mais que a educação na qual foi adestrada. Em um festa, uma comemoração de todo ignorada, sustentando um copo pela metade de vinho ela se empenha na promessa que fez a si mesma - seria uma noite para ser outra pessoa. Mas quem?
Os mesmos rostos e os mesmos diálgos, não é presciso escrever sobre a motivação de cada uma daquelas pessoas que a rodeavam sem a perceberem, para entender a situação. Em um quadro por terminar, ela seria a peça mais apagada de uma alegria incontida que pinceladas macias tentavam transmitir. Assumido papel de contraste - devaneios avoados reforçavam a expressão de indiferença - uma "atriz em tanto", diriam, se aquilo fosse um teatro. Os passos que haviam guiado ela até o centro da cidade e ao hotel então, não eram os mesmos que tinha dado até aquele instante de sua vida, na verdade era na imobilidade daquela posição afastada que ela tentava se movimentar. Paradoxo incomum para um pefil de tão belos traços.
Andar sobre as teclas de um piano quando a melodia é fugaz e efusiva tende a ser mais difícil do que em uma canção lenta e melancôlica. E quem é que está afim de dançar? Outras vestes, um novo nome, não usurpavam a totalidade, o indivíduo acabava sendo o mesmo, não importava a capa. Eram duas, três da manhã, os minutos ecoavam em um labirinto de monotonia que tinha pouco a oferecer; teremos um final distinto até a próxima aurora? O que ela queria era uma companhia agradável, alguém que lhe fizesse sentir-se viva e retirasse a lembrança de quem ela era e para onde iria. Infelizmente para uma história assim, o dia seguinte não seria premissa de um destino melhor, logo, o sol já despontaria no horizonte e ela ainda se sentiria perdida, mesmo sabendo aonde estava.
Tenho o mesmo sangue que corre em suas veias, tento te conduzir aqui de cima, contudo, apesar das largas calçadas vc parece não permitir que anônimos caminhem do seu lado, como posso chegar junto de ti? Apelo, simplesmente, esteja sob a luz e no escuro, quando elas se extinguirem, olhe para cima, para o céu. Não se preocupe, eu estarei bem, se vc estiver bem!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

[...]

To com vontade de apagar tudo isso e começar de novo...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Desde a primeira tempestade

"Não será um erro crer que os sentimentos se reproduzem? Uma vez despertos, não existem sempre no fundo do coração? Aí adormecem ou despertam ao sabor dos acidentes da vida, mas aí permanecem, e esta permanência modifica necessariamente a alma. Assim, qualquer sentimento existiria apenas um dia, o dia mais ou menos longo da sua primeira tempestade."

Por tantos anos a minha vida foi navegar por essas águas de tormentas, cessadas somente por ternos e amaldiçoados dias, que me davam assim, a pérfida esperança de uma bonança eterna. O irromper de uma nova aurora então, me apresentava o desgostoso engano de crer em promessas de mares tão traiçoeiros, aos poucos um horizonte que se mostrava acolhedor e provocante recaia em uma noite de trevas e borrasca. É de um pesar lancinante tal desventura de navegante, pois as alternativas que a vida desponta não incorrem por outros caminhos que não os do oceano, estamos sempre sujeitos às intempéries do clima. Maldita seja a sina!
É com um perdido olhar que eu me ponho a refletir, a intenção perscrutadora aqui não pode ser divisada na expressão inacabado de minha face. Tento distinguir a origem de tanta angústia e sofrimento, lástima incoerente que me enolve noite adentro. Por enquanto, posso aduzir somente as incômodas cargas que tantos temporais me trouxeram, creio realmente que estes novos fardos moldaram as feições do meu corpo e do meu caráter - um espírito modelado a dor de tantas ilusões e combates! Sabe, Srta. D'Aiglemont, não sinto a opressão deste sentimento diminuir a cada novo levante destas vagas, sinto as antes, mais impiedosas e impudicas. O que colocam em prova, minha resistência ou persistência? Sei apenas, que uma das certezas que nascem pós término do presumido última confronto com Plutão é a de estar mais forte e igualmente mais desesperançoso. Sendo assim, não é a tirania da mágoa que se abranda, mas sim a minha tolerância que aumenta.
Sofri apenas em si, tanto egoísmo fez com que meu semblante estivesse por tantas vezes nublado aos outros, menos acessível serão minhas mostras de humanidade, me desengano deste modo? Não, simplesmente respeito e aceito meu fado de marinheiro errante e pedante.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sobre uma crença para aqueles que nos procederem

Tenho poucos a mais anos; nestes últimos suspiros que me restam de vida, me propus a realização de uma obra de grande nobreza. Temo pelas póximas gerações que nos procederão, as quais terão suas casas destruídas e colherão o fruto da passagem minha e de meus irmãos pela terra ou o semeio do gérmen da discórdia. Pensando no desprezo que nossos filhos e netos não deixaram de nos poupar, tampouco o perdão que não concederam, prentendi registrar aqui em carta os vestígios de uma civilização que está por se perder ou as bases do grande edifício da humanidade que, tenho esperança, vcs saberão reerguer.
Construída sobre milhões de anos e bilhões de cabeças estão os fragmentos de uma passado glorioso que os homens do meu tempo souberam afundar em pilhas de lixo e ruína. Só consigo guardar comigo o pessimismo ao volver as costas para enxergar a linha cronológica sinuosa e descompassada dos passos que demos até estes dias. Será que não nos apercebíamos que o projeto de nossos pais e avós inadvertidamente nos levaria a auto-destruição? Não guardarei na memória as maravilhas erigidas pela urbe, sejam as pirâmides de Gizé ou a torre de Abu Dhabi, meu interesse maior antes, residirá na experiência trazida pelos povos campestres. O contato que este homens tiveram com a terra e as árvores fundamentaram o conhecimento que tento aqui, nestas parcas linhas, transmitir. As crenças que os múltiplos povos cultivaram no decorrer destes milênios sobre os continentes constituem a essência de suas culturas, o meio pelo qual podemos dar luz aos variados aspectos de sua vida social, seus costumes e suas visões de mundo, da mesma forma, eu sou descendente de um pensamento, ao qual tentarei passar adiante a chave de sua compreensão. No raro ânimo que ainda posso investir de meus punhos, desenharei os traços da representação daquilo que temos como motivo maior para viver, nosso Deus, a mãe Terra, que, tanto eu como vc, conhecemos tão bem - infelizmente de ângulo diferentes.
Temos uma religião dominante e dentro desta cosmogonia a Terra figura como divindade toda poderosa; de sua onipotência, onipresência e onisciência devemos a vida que surgiu do caldeirão primordial; é dela que retiramos o alento de nossos corpos e espíritos; de suas entranhas descobrimos a inspiração e o afã que nos fez andar sobre duas pernas. Se estamos a mercê de seus desejos e temperamento intempestivo e repentino, é também nela que encontramos o abrigo de suas desventuras. De variados nomes e corporificações no suceder de suas idades, em outras mitologias de mundo ela surgia como Gaia, Tlaltecuhtli, Geb, Ki, entre outros tantos títulos, sempre relegada a uma posição desprivilegiada no panteão das deidades da natureza. Até quando, nós, tolos homens, aprendemos a venerá-la com a distinção e pompa que lhe era cabida entretanto, no alto dos meus duzentos anos eu também assisti a degradação deste culto e perda da fé entre meus iguais, restando assim, em poucas décadas somente miséria e dor quando nos voltamos imperiosamente contra nossa criadora.
Sob concreto e chumbo deixo então, em descanço as incrições que revelam a motivação que antigamente nos guiava; acredito que com a ciência delas vcs possam restaurar e salvar a litugia que antes fazia verdejar os claros prados das amplas planícies e dal qual éramos seus sarcedotes e seguidores e fazer finalmente, renascer a devoção, que sustentávamos e penso que também vcs a detinham em mente, das graças que nos eram atingidas pela mãos de nossa grande mãe Terra.